domingo, 28 de abril de 2013

Amnésia

Não satisfeita com a calmaria e silêncio da vida que deixou para trás, debruçou-se diante da nova experiência de resgatar algo que lhe foi bom em um ano passado. Arrumou as malas rumo à antiga cidade que um dia pertenceu e olhando a seu redor, notou o quão confortável estava ali, de volta a seus livros, cheiros e travesseiro, em seu antigo e novo lar, e o quão feliz estava em seu estado atual.

Sem hesitar, entrou na viagem de corpo e alma, afim de aproveitar cada minuto a excitante sensação de ser livre e estar sozinha, luzes leves correndo através do vidro do carro, seu corpo relaxado, mesmo que por algumas horas. Em seus ouvidos, ecoava a habitual e agradável melodia que costumava ouvir no caminho à cidade, aquela que faz o simples vento que entra pela janela se tornar aliviante.

A ansiedade como parte do cenário, fazia seu estômago pedir por alívio. Ao chegar em seu destino, o bar de sempre, encontrou sorrisos confortantes das amigas de sempre e sabia que ali também estaria o motivo de sua dor, a de sempre.

Ao percorrer pelo ambiente preenchido de nostalgia, lembrou da noite em que o conheceu, em que estava despreocupada, com as unhas mal feitas, o cabelo rebelde. O lugar também a fez recordar a dor que sentiu ao ser dispensada, mesmo se mostrando interessada e tentando usar o cabelo do jeito que ele gostava.

Piscou os olhos depressa, como se dessa maneira fosse capaz esquecer e afastar o último pensamento e voltou a conversar com suas amigas, os olhos fingindo não procurá-lo.

Já no primeiro copo de cerveja aliado ao lento trago no cigarro, sentia-se dona de si e a coragem veio à tona. Resolveu dar uma volta sozinha e ao sair pela porta o viu caminhando em sua direção.

Por um instante o tempo parou. Ao vê-lo, esqueceu de tudo o que tinha ensaiado ser e dizer. Só conseguiu olhar em seus olhos perdidos no corredor do bar e cumprimentá-lo com um beijo no rosto e um abraço tímido.

E esqueceu-se de tudo a partir de então. Esqueceu dos problemas da antiga cidade, esqueceu da culpa, do anseio, da novidade. Esqueceu a idade, o tempo que passou e até do novo emprego. Esqueceu a decepção e as lágrimas que um dia derramou. Só queria ficar ali, só mais um pouco, rosto colado em seu peito, ouvindo seu coração.