quinta-feira, 25 de setembro de 2014

sobre o apego

"Sabe, o apego é como segurar com bastante força. Mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, porque elas pensam que quanto mais elas agarram alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro."

"Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que podemos ser preenchidos pelo outro será certamente muito complicado."

(Monja Jetsunma Tenzin Palmo)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

digerindo a solidão


Entrou em seu quarto, abriu as janelas e mergulhou na sua cama para olhar o céu estampado de estrelas. Acendeu um cigarro e colocou “Redondo Beach” para tocar, no repeat. Ficou imaginando as cenas cuspidas pela voz da Patti Smith enquanto passava as mãos pelos cabelos (sua mania de todas as noites antes de dormir, já que não tinha ninguém pra lhe fazer carinho) , enquanto desejava que uma estrela cadente passasse ali, no momento do refrão.

Mas não aconteceu.

Tirou a roupa e sentiu-se livre de todo o dia que passou. Levantou da cama e foi em direção ao banheiro. Ligou o chuveiro e esperou a água esquentar bastante, até fazer com que o banheiro ficasse úmido, parecendo uma sauna. Entrou debaixo da água quente e começou a cantar em voz alta, livrando-se das reminiscências do dia anterior. Queria ficar ali debaixo pra sempre, molhando os cabelos e todo o rosto, deixando os dedos enrugados de tanta água quente...
Finalmente desligou o chuveiro e colocou o roupão convencional. Voltou para o quarto, para a cama, para a meia-luz e para a janela.
Seu gato já estava confortável debaixo dos lençóis e ela acendeu mais um cigarro; desta vez o tragaria com o chá que havia preparado antes de entrar no quarto. Tomou um gole de chá e deu mais um trago intenso em seu cigarro de menta. “De menta pra não deixar gosto ruim”, dizia para os curiosos. Mas a menta já estava tornando-se parte do seu enjôo diário, então ela prometia todos os dias que iria parar de fumar.
Ela queria parar de fumar, de beber e de sair para lugares que envolviam bebida e cigarros. Ela queria parar de comer animais e de fazer sexo sem amor. Ela queria ser uma estrela ou um gato para dormir o dia inteiro e acordar à noite.
Deitou-se na cama de lençóis pretos e travesseiros brancos. Deitou nua, para sentir a sua cama por inteiro e assim, descansar melhor. Voltou a olhar as estrelas e pensou na imensidão do céu e na vontade de estar tão longe dali. Olhou para seu gato – ele parecia compreender. Desligou o abajur cor-de-rosa e tentou dormir ao som da voz que mais adorava – a voz do silêncio.

Ela queria o mundo e nunca estava satisfeita com o mundo que tinha.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As conversas que eu ouço por aí: “Quem sou eu pra julgar?”


“Oi amiga! Tô zen! Voltei de um retiro espiritual abençoado. Até queria te chamar pra ir na minha Igreja e... Como? Quem? Não acredito! Nossa, ela é ótima em querer aparecer né? Mas, fazer o que, cada um sabe o que é melhor pra si. Nooossaa!! É muito ridícula, mesmo. Com certeza a indireta foi pra você. Mas não se atinja! Sério?? Falou um monte da outra agora virou amiga. Cada coisa que a gente vê por aí né? Duas cobras juntas, vão se dar bem! Mas, assim, né, nada contra. Quem sou eu pra julgar?”

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Rabujem (verbo intransitivo)

Se eu pudesse fazer um pedido ao gênio da lâmpada, pediria pra ele devolver a minha empolgação. Não que eu seja uma pessoa triste, mas se tem uma coisa que eu não sou é empolgada. Não sei se é porque eu sou desligada demais e acabo achando tudo muito normal ou se é porque eu sou chata mesmo.

O grande fato é que eu não sou do tipo que fala alto ou que dá pulos e gritinhos quando vê as amigas de longa data; que acham o máximo a viagem que o colega de trabalho fez pra Nova York, pra torrar a grana da PLR no free shop. “Mas que sujeito chato sou eu, macaco, praia, carro, jornal, ‘tóbugã’... Eu acho tudo isso um saaaaaco!!” (grande Raul Seixas!).

Não consigo me alegrar com a coleção de sapatos de verão da Arezzo ou com Tomorrowland. Não me interessa se aquele namoro de mil anos dos meus melhores amigos vai virar casamento. Uma hora ia virar casamento ou não, não é mesmo? Isso é legal, é motivo para comemorar. Mas é legal e ponto. Não é o máximo, ao ponto de me fazer suspirar de surpresa e mobilizar esforços para organizar um chá de cozinha (desculpe, amigas, mas não é!) – As pessoas geralmente odeiam minhas demonstrações de afeto que não ultrapassam um abraço ou um beijo seco.

Nunca fui de grandes eventos, nem de muitos amigos. Sempre estive ao lado dos excluídos no colégio e nunca fui uma garota popular. Mas por quê? Na verdade, eu queria ter dom daquelas pessoas que fazem amizade fácil.

Isso me lembra Flávia!

Flávia é uma menina bonita. Ela estava ficando com um amigo meu e ele sempre me falava: “Você precisa conhecer a Flávia. Vocês vão se dar super bem! São bem parecidas. A Flávia gosta das mesmas coisas que você. A Flávia é demais. A Flávia é isso, a Flávia é aquilo.” Ele falava tanto da Flávia que chegava a me irritar um pouco. Ciúme, talvez.
Chegou o grande dia. Conheci a Flávia. Bonita, com um sorriso branco de dar inveja e realmente muito feliz. Chegou sorrindo, me abraçando e dizendo: “Nossa, o Caio não para de falar de você. Ele disse que temos muito em comum!”. “Ah, ele disse?” (pensei eu, querendo sair correndo dali).
E não é que a garota era a simpatia em pessoa?? Daquelas mulheres que acreditam ser suas amigas de infância, que falam alto e sabem de tudo: de música, livros, baladas, jogos, fofocas, tendências, economia, política e religião.Tudo!

Nossa amizade não durou. Na verdade, a nossa amizade nunca nasceu, porque eu confesso que aquele jeito íntimo me assustou. Não consigo fazer a íntima. Bem que eu gostaria! Gostaria muito! Gostaria de ser assim, com todos, sempre. Chegar ao trabalho com um sorriso, puxar conversa no banheiro com a mulherada, gritar ao me empolgar e me derreter com um coro de “ooooouuuunnnsss” ao ganhar o primeiro pedaço de bolo do namorado. Queria ser aquela que grita “discurso! discurso!” e agita o parabéns. Ou que organiza o aniversário da amiga e manda um e-mail super fofo pra todo mundo combinando uma surpresinha:

“Oi lindaaasss! Amanhã é aniversário da Nickyyyy. Vamos comprar um presentinho MARA pra ela? Ainnn, ela vai amarrr!!! Amodoro vocês!”

Queria ser a abelha rainha da trupe, que junta o bando de amigas para ir ao cinema chorar num filme romântico!

Ou que dá um BOM DIAAAAA bem longo.

Não, “Bom dia” bem longo me irrita. Na verdade, a fofura me irrita.

...

Se eu encontrasse o gênio da lâmpada, ia pedir pra ele sumir com a minha irritação. Mas pediria pra ele me deixar com o meu jeitinho rabugento “fofo” de ser.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Êxtase

é quando eu vejo você chegar - camiseta branca, cabelo escovado pelo vento, sorriso nos olhos ao ver minha boca se aproximar da sua. é quando seu abraço me envolve e eu fico pequena, aninhada em seu peito, sentindo o perfume do seu pescoço, meu lugar favorito do mundo. é quando depois da discussão, vem o pedido de desculpa e uma noite apaixonada. é dar risada do exagero dos outros, é ficar de bem com a nossa simplicidade. é planejar o futuro juntos, depois da vontade de ir embora pra sempre. é querer não ir embora. é quando o sábado acaba e o domingo amanhece, mais um dia pra nós dois. é quando meu peito dói de saudade e a sexta feira chega. foi no primeiro beijo, foi no reencontro e é assim, todos os dias que eu te vejo e que eu me faço sua, você meu. é quando eu percebo que errei, meu pedido de desculpas e seu olhar aliviado ou vice-versa. é quando eu sinto que a vida, depois de uma rasteira safada, nos colocou de volta pro caminho certo.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pro futuro, eu e você.

Igual ao pôr-do-sol na montanha. Sorriso de criança. Fruta tirada do pé. Banho de cachoeira. Acordar com a sua respiração. Luz do sol invadindo a janela do quarto. Seu coração batendo perto do meu, sua risada, segurar sua mão e não deixar você se vestir pra ir trabalhar. Beijar teu rosto, te entregar sorrisos e passear em você. Ouvir o barulho de chuva como trilha sonora de sonho. Bater palmas. Lambuzar o rosto, manga rosa em mãos. Caminhar descalços todos os dias. Caminhar descalços na grama, quando der. Seu abraço. Sempre o seu abraço. Conversas desconexas, propostas decentes ou não. Pernas entrelaçadas. Você me ver chorando ao cortar cebolas e ouvir Caetano. Pintar nossa parede. Te sujar com a tinta que pinta a nossa parede. Pizza e filmes preferidos. Fotografias. Entender quando dói e fazer parar de doer. Você me dizendo que eu sou ciumenta e vice-versa. Tomar banho de chuva. Caminhar pela praça. Ver a bagunça que deixou no quarto e te presentear com meu olhar bravo. Seu deboche por eu não saber fazer contas. Aumentar o som quando tocar aquela música que a gente gosta. Você se arriscando na cozinha e eu irritada com a bagunça que fez. Minha euforia e sensibilidade com comerciais bonitos. Coração acelerado e mãos suando. Quero te amar sempre e te achar ridículo de vez em quando. Seu sorriso só pra mim. E nós dois, um do outro. Pra sempre!