terça-feira, 16 de setembro de 2014

Rabujem (verbo intransitivo)

Se eu pudesse fazer um pedido ao gênio da lâmpada, pediria pra ele devolver a minha empolgação. Não que eu seja uma pessoa triste, mas se tem uma coisa que eu não sou é empolgada. Não sei se é porque eu sou desligada demais e acabo achando tudo muito normal ou se é porque eu sou chata mesmo.

O grande fato é que eu não sou do tipo que fala alto ou que dá pulos e gritinhos quando vê as amigas de longa data; que acham o máximo a viagem que o colega de trabalho fez pra Nova York, pra torrar a grana da PLR no free shop. “Mas que sujeito chato sou eu, macaco, praia, carro, jornal, ‘tóbugã’... Eu acho tudo isso um saaaaaco!!” (grande Raul Seixas!).

Não consigo me alegrar com a coleção de sapatos de verão da Arezzo ou com Tomorrowland. Não me interessa se aquele namoro de mil anos dos meus melhores amigos vai virar casamento. Uma hora ia virar casamento ou não, não é mesmo? Isso é legal, é motivo para comemorar. Mas é legal e ponto. Não é o máximo, ao ponto de me fazer suspirar de surpresa e mobilizar esforços para organizar um chá de cozinha (desculpe, amigas, mas não é!) – As pessoas geralmente odeiam minhas demonstrações de afeto que não ultrapassam um abraço ou um beijo seco.

Nunca fui de grandes eventos, nem de muitos amigos. Sempre estive ao lado dos excluídos no colégio e nunca fui uma garota popular. Mas por quê? Na verdade, eu queria ter dom daquelas pessoas que fazem amizade fácil.

Isso me lembra Flávia!

Flávia é uma menina bonita. Ela estava ficando com um amigo meu e ele sempre me falava: “Você precisa conhecer a Flávia. Vocês vão se dar super bem! São bem parecidas. A Flávia gosta das mesmas coisas que você. A Flávia é demais. A Flávia é isso, a Flávia é aquilo.” Ele falava tanto da Flávia que chegava a me irritar um pouco. Ciúme, talvez.
Chegou o grande dia. Conheci a Flávia. Bonita, com um sorriso branco de dar inveja e realmente muito feliz. Chegou sorrindo, me abraçando e dizendo: “Nossa, o Caio não para de falar de você. Ele disse que temos muito em comum!”. “Ah, ele disse?” (pensei eu, querendo sair correndo dali).
E não é que a garota era a simpatia em pessoa?? Daquelas mulheres que acreditam ser suas amigas de infância, que falam alto e sabem de tudo: de música, livros, baladas, jogos, fofocas, tendências, economia, política e religião.Tudo!

Nossa amizade não durou. Na verdade, a nossa amizade nunca nasceu, porque eu confesso que aquele jeito íntimo me assustou. Não consigo fazer a íntima. Bem que eu gostaria! Gostaria muito! Gostaria de ser assim, com todos, sempre. Chegar ao trabalho com um sorriso, puxar conversa no banheiro com a mulherada, gritar ao me empolgar e me derreter com um coro de “ooooouuuunnnsss” ao ganhar o primeiro pedaço de bolo do namorado. Queria ser aquela que grita “discurso! discurso!” e agita o parabéns. Ou que organiza o aniversário da amiga e manda um e-mail super fofo pra todo mundo combinando uma surpresinha:

“Oi lindaaasss! Amanhã é aniversário da Nickyyyy. Vamos comprar um presentinho MARA pra ela? Ainnn, ela vai amarrr!!! Amodoro vocês!”

Queria ser a abelha rainha da trupe, que junta o bando de amigas para ir ao cinema chorar num filme romântico!

Ou que dá um BOM DIAAAAA bem longo.

Não, “Bom dia” bem longo me irrita. Na verdade, a fofura me irrita.

...

Se eu encontrasse o gênio da lâmpada, ia pedir pra ele sumir com a minha irritação. Mas pediria pra ele me deixar com o meu jeitinho rabugento “fofo” de ser.

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