O
grande fato é que eu não sou do tipo que fala alto ou que dá pulos e gritinhos
quando vê as amigas de longa data; que acham o máximo a viagem que o colega de
trabalho fez pra Nova York, pra torrar a grana da PLR no free shop. “Mas que
sujeito chato sou eu, macaco, praia, carro, jornal, ‘tóbugã’... Eu acho tudo
isso um saaaaaco!!” (grande Raul Seixas!).
Não
consigo me alegrar com a coleção de sapatos de verão da Arezzo ou com
Tomorrowland. Não me interessa se aquele namoro de mil anos dos meus melhores
amigos vai virar casamento. Uma hora ia virar casamento ou não, não é mesmo?
Isso é legal, é motivo para comemorar. Mas é legal e ponto. Não é o máximo, ao
ponto de me fazer suspirar de surpresa e mobilizar esforços para organizar um
chá de cozinha (desculpe, amigas, mas não é!) – As pessoas geralmente odeiam
minhas demonstrações de afeto que não ultrapassam um abraço ou um beijo seco.
Nunca
fui de grandes eventos, nem de muitos amigos. Sempre estive ao lado dos
excluídos no colégio e nunca fui uma garota popular. Mas por quê? Na verdade,
eu queria ter dom daquelas pessoas que fazem amizade fácil.
Isso me lembra Flávia!
Isso me lembra Flávia!
Flávia é uma menina
bonita. Ela estava ficando com um amigo meu e ele sempre me falava: “Você
precisa conhecer a Flávia. Vocês vão se dar super bem! São bem parecidas. A
Flávia gosta das mesmas coisas que você. A Flávia é demais. A Flávia é isso, a
Flávia é aquilo.” Ele falava tanto da Flávia que chegava a me irritar um pouco.
Ciúme, talvez.
Chegou o grande dia.
Conheci a Flávia. Bonita, com um sorriso branco de dar inveja e realmente muito
feliz. Chegou sorrindo, me abraçando e dizendo: “Nossa, o Caio não para de
falar de você. Ele disse que temos muito em comum!”. “Ah, ele disse?” (pensei
eu, querendo sair correndo dali).
E não é que a garota
era a simpatia em pessoa?? Daquelas mulheres que acreditam ser suas amigas de
infância, que falam alto e sabem de tudo: de música, livros, baladas, jogos,
fofocas, tendências, economia, política e religião.Tudo!
Nossa
amizade não durou. Na verdade, a nossa amizade nunca nasceu, porque eu confesso
que aquele jeito íntimo me assustou. Não consigo fazer a íntima. Bem que eu
gostaria! Gostaria muito! Gostaria de ser assim, com todos, sempre. Chegar ao
trabalho com um sorriso, puxar conversa no banheiro com a mulherada, gritar ao
me empolgar e me derreter com um coro de “ooooouuuunnnsss” ao ganhar o primeiro
pedaço de bolo do namorado. Queria ser aquela que grita “discurso! discurso!” e
agita o parabéns. Ou que organiza o aniversário da amiga e manda um e-mail
super fofo pra todo mundo combinando uma surpresinha:
“Oi lindaaasss! Amanhã
é aniversário da Nickyyyy. Vamos comprar um presentinho MARA pra ela? Ainnn,
ela vai amarrr!!! Amodoro vocês!”
Queria
ser a abelha rainha da trupe, que junta o bando de amigas para ir ao cinema
chorar num filme romântico!
Ou
que dá um BOM DIAAAAA bem longo.
Não,
“Bom dia” bem longo me irrita. Na verdade, a fofura me irrita.
...
Se
eu encontrasse o gênio da lâmpada, ia pedir pra ele sumir com a minha
irritação. Mas pediria pra ele me deixar com o meu jeitinho rabugento “fofo” de
ser.
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