“Por quê não abrir aquela porta no final do corredor?” A
ideia começou a fervilhar na minha cabeça, como um batuque ritimado, sem parar.
As consequências de abrir ou não a porta também começaram a preocupar meus
pensamentos:
- Se eu manter a porta fechada, estarei bem e segura. Pra que abrir a porta se eu não sei o que tem dentro dela?
- Se eu ousar abrí-la, pode ser que eu me depare com um caminho novo (e isso pode ser bom - ou ruim).
- Abre logo essa merda. Você sempre foi impulsiva. Vai e mostra quem você é, garota!
- Se eu abrir posso me fuder. Pela terceira vez.
Pois é. Como se não bastasse a dúvida, o sentimento
prazeroso de saber que alguém estaria me esperando do outro lado era o que mais
me atordoava. Era você. Você estava lá do outro lado, querendo me fazer sorrir,
podendo me fazer chorar.
Durante a jornada da confusão e dos batuques de Olodum
batendo na minha cabeça, passei por dias e dias. Houve dias em que eu evitava
cruzar o caminho daquela porta dos infernos e noutros simplesmente me esquecia
que ela estava ali, me chamando. Houve dias em que cheguei bem perto da
fechadura e a acariciei com malícia, vontade de abrí-la.
Até que houve aquele dia – aquele dia! – em que eu tentei
abrir, lembra? Mas aí veio você e toda a decepção que uma mulher (com dor de
cotovelo) pode ter. A decepção e a – quase – certeza de que tudo aquilo não
valia a pena.
Doeu um pouco saber que a realidade seria feroz o bastante
dali pra frente. Tão feroz que meu sentimento voltou à estaca zero. (Mentira,
eu ainda te amava).
Por mais um tempo (dessa vez não durou muito), eu evitei a
porta e sua maçaneta tentadora. Até que um dia, ao passar por ela, lembrei que
você ainda estava ali, mandando sinal de luz pelo buraco da fechadura, tentando
me levar de volta pra você e me amando com aquele sorriso que me derruba. (Já
falei que aprecio o seu nariz, mas o seu sorriso apaixonado é “ahhhhh”... suspíro!)
[ Voltando ]... ao
lembrar que você ainda estava ali, mandano sinal de luz pelo buraco da
fechadura, tentando me levar de volta pra você, percebi que eu não estava nem aí
para nada do que aconteceu. Eu não estava nem aí se você errou, se você fez
cavanhaque ou se preferiu jogar video game ao invés de me ver. Tudo o que eu
pensava era em me fazer feliz. A vontade de abrir a porta sempre foi muita.
Então eu a abri. Na verdade, escancarei a porta. Mesmo com
decepções, o caminho que encontrei ao atravessá-la é acolhedor. Nunca andei por
estradas como essas em minha vida. Aqui, posso andar descalça que o chão não
machuca meus pés. Posso falar o que eu penso e agir como eu quero.
Não sei se é o caminho certo, mas sei que é o caminho que eu
quero seguir hoje.
Só com você. (porque senti vontade).