segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Talvez eu ainda aprenda que a vida nunca será leve, serena e com água tranqüila no oceano.

Hoje estou sozinha, naquela cidade desconhecida que teima em tentar forçar um abraço espontâneo. Mas nunca é espontâneo, é sempre aquele abraço falso de quem está ali do seu lado porque tem que estar. Você nunca será sua pessoa favorita.

A pessoa favorita se foi há uns anos atrás, levando doces e deixando lágrimas, a pessoa certa pra casar com seu filho. Mas como me disse uma vez: "Criamos nossos filhos, eles namoram com muitas pessoas com as quais nos identificamos, mas sempre irão se casar com aquela que menos gostamos."

Mais um dia, engulo em seco. Mais um dia sozinha, na cidade escura e deserta.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lembrete

Nunca se esqueça de que és única no mundo, mas também de que está sozinha. Ninguém é capaz de ser 100% fiel. Ninguém será exclusivamente seu.
Conforme os anos passam, você amadureceu e passou a encarar a vida com mais frieza. Tente ser mais leve, com cautela.

A confiança no outro virá. Não se apresse, ela virá.

Ass: você mesma, nas 20 e tantas semanas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Zé, parte 1


- Acorda, Zé. Porra! Eu não disse que íamos sair às 20h? Já são 19h30.

Zé abriu os olhos assustado. Depois de dormir na cama de Pedro e sonhar 8 horas com a mesma cena, acordou sobressaltado. Esfregou os olhos com as costas das mãos, sentou-se na beira da cama e ficou alguns minutos analisando os próprios pés, tentando voltar à realidade. “É, aconteceu!”, pensou.

- Vamos Zé! Vai ficar aí parado? Não aguento mais te ver em casa. Vai! Vai pro banho – disse Pedro, jogando uma toalha azul em seu colo.

Zé olhou pra toalha, anestesiado. Tomou coragem e levantou. Foi até o banheiro do pequeno apartamento de Pedro e encarou o espelho pela primeira vez nas últimas 24 horas. Seus olhos estavam inchados, tristes, buscando alguma resposta. Ele não tinha resposta. Não podia, nem queria voltar atrás. Separou-se da mulher que amava, sentia seu peito doer, mas sabia que tudo aquilo iria passar.

Ligou o chuveiro, tomou um banho aliviante, mas deixou a barba por fazer. Ao se deparar com suas roupas, hesitou ao escolher aquela camisa vermelha, pois ela adorava vê-lo com ela. Dispensou a escolha: vou de camisa branca. 
Se vestiu, arrumou o cabelo e estava pronto pra reiniciar a vida de solteiro.

- Tá pronto? – chamou Pedro.

- Acho que sim, vamos.

Chegaram ao bar. Uau! Fazia anos que Zé não passava por ali. Outros bares abriram na região, um pessoal mais elitizado começou a frequentá-los. Tinha até música ao vivo. Bem diferente de 6 anos atrás, quando ia só jogar uma partida de sinuca com os amigos. Encontrou o restante dos amigos e pediu um chopp.

Sentiu-se perdido. Estava ali, mas sua cabeça estava em outro lugar. Olhava para outras mulheres: todas novas demais, todas alegres demais, cabelos loiros demais, decotadas demais. Só pensava nela e em seu sorriso, nas suas mãos, suas saias longas e na sua habilidade ao mentir. Sentiu raiva e mais dor.

Seus amigos falavam sobre o último Carnaval, as mulheres com quem ficaram, a bebida a mais, as drogas a mais. Falavam sobre facebook, whatsapp e instagram. E Zé se perguntava por quanto tempo ficou fora do planeta Terra. Não tinha nem um smartphone. Não sabia de mais nada. Não tinha assunto e se sentiu um velho.

Zé estava triste. Um burro triste.

Ao perceber sua tristeza, Lorena se aproximou.

- Hey, cabeça... Posso me sentar?

Ao levantar os olhos, Zé exclamou surpreso:

- Lorena?

A moça respondeu com um sorriso.

Aos 15 anos, Zé e Lorena estudaram juntos. Ele foi apaixonado pelo jeito de Lorena: sonhadora, desencanada, pés no chão.

Começaram a conversar e Zé percebeu que estava sorrindo. Fazia tempo que alguém não o fazia sorrir. Mas mesmo assim, percebeu que ao conversar com Lorena, só falava de Natália e de seus cabelos, daquelas mãos em sua barba, seu sorriso perturbador e sua facilidade em trair.

Cansada, Lorena interrompeu a conversa, sem jeito:

- Me liga, Zé. Quero te ver feliz. Me liga! Pra um chopp, sei lá...

Lorena foi embora pra casa lembrando do dia em que Zé lhe roubou um beijo no colégio e depois a dispensou: “Será que ele se lembra?”

As pessoas nos fazem doer.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

sobre o apego

"Sabe, o apego é como segurar com bastante força. Mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, porque elas pensam que quanto mais elas agarram alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro."

"Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que podemos ser preenchidos pelo outro será certamente muito complicado."

(Monja Jetsunma Tenzin Palmo)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

digerindo a solidão


Entrou em seu quarto, abriu as janelas e mergulhou na sua cama para olhar o céu estampado de estrelas. Acendeu um cigarro e colocou “Redondo Beach” para tocar, no repeat. Ficou imaginando as cenas cuspidas pela voz da Patti Smith enquanto passava as mãos pelos cabelos (sua mania de todas as noites antes de dormir, já que não tinha ninguém pra lhe fazer carinho) , enquanto desejava que uma estrela cadente passasse ali, no momento do refrão.

Mas não aconteceu.

Tirou a roupa e sentiu-se livre de todo o dia que passou. Levantou da cama e foi em direção ao banheiro. Ligou o chuveiro e esperou a água esquentar bastante, até fazer com que o banheiro ficasse úmido, parecendo uma sauna. Entrou debaixo da água quente e começou a cantar em voz alta, livrando-se das reminiscências do dia anterior. Queria ficar ali debaixo pra sempre, molhando os cabelos e todo o rosto, deixando os dedos enrugados de tanta água quente...
Finalmente desligou o chuveiro e colocou o roupão convencional. Voltou para o quarto, para a cama, para a meia-luz e para a janela.
Seu gato já estava confortável debaixo dos lençóis e ela acendeu mais um cigarro; desta vez o tragaria com o chá que havia preparado antes de entrar no quarto. Tomou um gole de chá e deu mais um trago intenso em seu cigarro de menta. “De menta pra não deixar gosto ruim”, dizia para os curiosos. Mas a menta já estava tornando-se parte do seu enjôo diário, então ela prometia todos os dias que iria parar de fumar.
Ela queria parar de fumar, de beber e de sair para lugares que envolviam bebida e cigarros. Ela queria parar de comer animais e de fazer sexo sem amor. Ela queria ser uma estrela ou um gato para dormir o dia inteiro e acordar à noite.
Deitou-se na cama de lençóis pretos e travesseiros brancos. Deitou nua, para sentir a sua cama por inteiro e assim, descansar melhor. Voltou a olhar as estrelas e pensou na imensidão do céu e na vontade de estar tão longe dali. Olhou para seu gato – ele parecia compreender. Desligou o abajur cor-de-rosa e tentou dormir ao som da voz que mais adorava – a voz do silêncio.

Ela queria o mundo e nunca estava satisfeita com o mundo que tinha.