segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Infância amiga

A conheci no ensino fundamental, terceira série. Mas nos conhecemos mesmo na quinta série. Lembro até hoje do primeiro diálogo, quando timidamente me apresentei para a menina de cabelos ondulados à minha frente:

- Oi, meu nome é Camila, e o seu?

- Clara.

Clara era uma menina de poucas palavras (inicialmente), filha de uma das professoras do colégio. Tinha uma pele bem branca, olhos cor de amêndoa e cabelos castanho-claro.

"Você vai andar com essa menina?" - certa colega de classe me repreendeu - "Ela come borracha!". Lembro disso como se fosse hoje. "Ela come borracha?" - pensei - "Até parece!"

Sem me preocupar com a opinião alheia (mas com um certo preconceito confesso), eu vi em Clara uma lealdade que jamais encontraria em outra garota naquele colégio. Era como se existisse uma parte de mim em forma de menina branca e baixinha. Éramos inseparáveis e nos denominávamos irmãs de espírito.

Conforme fomos nos conhecendo, passamos a trocar confidências e nos tornamos melhores amigas de classe. Dividíamos o lanche na hora do recreio, as dúvidas em Matemática - com a professora que parecia um dos integrantes da banda favorita da Clara - e nos divertíamos jogando vôlei na aula de Educação Física.

Os finais de semana eram divididos entre filmes na minha casa e brincadeiras nas ruas de Guarulhos - onde a Clara morava.

Lembro do bolo de chocolate e da torta de salsicha da mãe dela (essa, eu fiz minha mãe aprender a receita!). Lembro das idas ao shopping de Guarulhos, quando só comer uma porção de batatas fritas era o suficiente pra fazer uma tarde de domingo feliz.

Ouvíamos música! Enquanto Clara era apaixonada por heavy metal, eu preferia música pop ou hard core. Nisso, não concordávamos!

Conforme fomos crescendo e amadurecendo, dividimos também nossas descobertas e interesses sobre misticismo, espiritismo e budismo. Nisso, tínhamos sintonia!

Foram anos de histórias boas, histórias que ficam na memória.

...

Existe um branco em minha cabeça que me faz pensar: "Por que a vida nos leva a rumos que nos faz perder a essência e, consequentemente, nos afasta de pessoas importantes?"

Não existe resposta.

O que existe é a eterna lembrança de uma infância maravilhosa que afaga meu peito e me faz sorrir saudosamente todas as noites ao me deitar.

Obrigada, amiga!