Não
satisfeita com a calmaria e silêncio da vida que deixou para trás, debruçou-se
diante da nova experiência de resgatar algo que lhe foi bom em um ano passado.
Arrumou as malas rumo à antiga cidade que um dia pertenceu e olhando a seu
redor, notou o quão confortável estava ali, de volta a seus livros, cheiros e
travesseiro, em seu antigo e novo lar, e o quão feliz estava em seu estado
atual.
Sem hesitar, entrou na viagem de
corpo e alma, afim de aproveitar cada minuto a excitante sensação de ser livre
e estar sozinha, luzes leves correndo através do vidro do carro, seu corpo
relaxado, mesmo que por algumas horas. Em seus ouvidos, ecoava a habitual e
agradável melodia que costumava ouvir no caminho à cidade, aquela que faz o
simples vento que entra pela janela se tornar aliviante.
A ansiedade como parte do cenário,
fazia seu estômago pedir por alívio. Ao chegar em seu destino, o bar de sempre,
encontrou sorrisos confortantes das amigas de sempre e sabia que ali também
estaria o motivo de sua dor, a de sempre.
Ao percorrer pelo ambiente
preenchido de nostalgia, lembrou da noite em que o conheceu, em que estava
despreocupada, com as unhas mal feitas, o cabelo rebelde. O lugar também a fez
recordar a dor que sentiu ao ser dispensada, mesmo se mostrando interessada e
tentando usar o cabelo do jeito que ele gostava.
Piscou os olhos depressa, como se
dessa maneira fosse capaz esquecer e afastar o último pensamento e voltou a
conversar com suas amigas, os olhos fingindo não procurá-lo.
Já no primeiro copo de cerveja
aliado ao lento trago no cigarro, sentia-se dona de si e a coragem veio à tona.
Resolveu dar uma volta sozinha e ao sair pela porta o viu caminhando em sua
direção.
Por um instante o tempo parou. Ao
vê-lo, esqueceu de tudo o que tinha ensaiado ser e dizer. Só conseguiu olhar em
seus olhos perdidos no corredor do bar e cumprimentá-lo com um beijo no rosto e
um abraço tímido.
E esqueceu-se de tudo a partir de
então. Esqueceu dos problemas da antiga cidade, esqueceu da culpa, do anseio,
da novidade. Esqueceu a idade, o tempo que passou e até do novo emprego. Esqueceu
a decepção e as lágrimas que um dia derramou. Só queria ficar ali, só mais um
pouco, rosto colado em seu peito, ouvindo seu coração.