quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Liberdade de mim

Com uma arrogância invejável, coloquei o meu sapato de salto doze para que ela parecesse ainda maior, assim como o meu ego comprometido.Olhei para o espelho, passei o batom vermelho e como de costume, não sorri pra imagem que eu via refletida. Preferia continuar com o meu nariz em pé e com a boca dura.
Tocou a campainha, fui atendê-lo com um beijo – tão seco quanto eu – em seu rosto. Ele me olhou admirado, eu o olhei com desdém.Andando como uma garça, abri a porta do carro, sentei-me e abri os vidros para respirar.
Começou a vontade de liberdade. Não me lembrava que sensação de colocar a cara pra fora do vidro do carro é tão boa. Faz com que meus olhos se fechem naturalmente e que meu sorriso abra, deixando minhas bochechas adormecidas. Já não ligava pro penteado demorado que fiz se desmanchando, nem para o que as pessoas pensavam. Queria apenas que aquele momento tão idiota se tornasse inesquecível.Ele me olhava, ainda admirado, e tentava me convencer de que era melhor eu abrir os olhos.
Não satisfeita, saí ainda mais da janelinha e sentei-me nela, fazendo com que ele gritasse de medo. Meu cigarro já tinha apagado por causa do vento que ficava cada vez mais forte quando ele acelerava o carro.Joguei meus braços ao ar, e uma música tocava em meus ouvidos. Queria aquela sensação pra mim, queria agarrá-la de uma vez por todas! Ela não tinha o direito de escapar, tinha que ser minha!Mas o relógio marcou cinco horas da manhã e ele fez o caminho de volta pra minha casa.
“Quanto, a corrida?” – perguntei, com as bochechas vermelhas.
“Cento e vinte reais, senhora” – respondeu, amargurado por me deixar.
Paguei o que devia, e o táxi foi embora.Entrei em casa, tirei o salto e olhei pro espelho na parede do meu quarto. Dessa vez, sorri de volta pra imagem refletida. Cabelos embaraçados pelo vento, maquiagem intacta e pés não doloridos.
Queria a liberdade em tempo integral, mas ela só aparece quando o táxi chega em casa – E ele só vem na próxima semana.